22/10/2025
Como as traduções em tempo real podem revolucionar as viagens internacionais ? e o que perdemos com isso
iPhone 17: Apple lança versões Air e Pro, além de novos Apple Watch e AirPods 3 Pro
Por cerca de cinco décadas, um romance de ficção científica fez seus leitores desejarem ter um peixe na sua orelha.
Os personagens do Guia do Mochileiro das Galáxias (Ed. Arqueiro, 2021), de Douglas Adams (1952-2001), compreendem qualquer idioma graças ao pequeno (e, infelizmente, fictício) peixe Babel.
"Se você introduzir no ouvido um peixe Babel, poderá compreender imediatamente tudo o que for dito a você, em qualquer língua", escreveu Adams.
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Agora, esse sonho da ficção científica está chegando mais perto da realidade com os novos AirPods Pro 3 da Apple, que prometem tradução ao vivo.
A nova função de tradução ao vivo da Apple é uma dádiva para os viajantes, mas a dependência excessiva da tradução por IA pode nos fazer repensar por que aprendemos idiomas estrangeiros
Getty Images via BBC
A empresa afirma que os usuários podem escutar conversas em diversos idiomas estrangeiros e ouvir as palavras traduzidas no ouvido, com a transcrição simultânea na tela do celular. Tudo sem a necessidade de transplante de um peixe alienígena.
À primeira vista, esta função tem o potencial de deflagrar uma nova onda de viagens mais tranquilas, alterando a forma como visitamos restaurantes em outros países, fazemos amigos no exterior ou pedimos orientações em uma cidade desconhecida.
Mas será que esta fluência instantânea traz custos escondidos?
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Tecnologia profunda, mas imperfeita
A reação dos especialistas foi de satisfação.
"Isso é profundo", definiu uma crítica no jornal The New York Times, referindo-se à inovação da Apple como "um dos mais fortes exemplos de como podemos usar a inteligência artificial de forma prática e integrada para melhorar a vida das pessoas".
Mas a tecnologia, atualmente, está longe de ser perfeita. Uma análise de tecnologia do portal CNET relatou que o software, ocasionalmente, inseriu palavrões dispersos na tradução.
Estes deslizes, porém, ocorrem com frequência nos primeiros modelos das novas tecnologias. E as falhas podem ser rapidamente corrigidas quando o desenvolvedor publica atualizações, sem falar em todas as outras marcas que, agora, irão trabalhar furiosamente para lançar ferramentas similares.
Demonstração de tradução ao vivo nos AirPods Pro.
Reprodução/Apple
Ainda assim, mesmo neste estágio inicial, a tradução ao vivo no seu bolso poderá incentivar milhões de pessoas a viajar mais e com mais frequência.
Uma pesquisa do fornecedor de cursos de idiomas Preply, realizada em 2025, concluiu que um terço dos norte-americanos pesquisados seleciona intencionalmente destinos onde eles não terão problemas com um idioma estrangeiro.
Dentre os que se aventuraram a visitar países que não falam inglês, cerca de 25% afirmam terem se comunicado simplesmente falando "mais alto e lentamente", o que raramente gera uma recepção calorosa.
A pesquisa também observou que 17% dos participantes, temendo o labirinto de um menu estrangeiro, se restringem às redes americanas de fast food para as refeições no exterior.
Mas a tradução instantânea poderá fazer mais do que ajudar os indivíduos a mergulhar em novas culturas e iniciar conversas.
Ela poderá renovar setores inteiros da economia, levando as pessoas além das cadeias familiares e das armadilhas para os turistas, canalizando renda para pequenos fornecedores locais, cujo domínio do inglês é imperfeito.
A executiva de serviços financeiros Gracie Teh conta a dificuldade que enfrentou para encaminhar sua bagagem para um novo hotel, quando visitou uma minúscula cidade no Japão.
Apesar de não falar inglês, o concierge "se recusou a usar o Google Tradutor ou ler o que estávamos digitando nele", lamenta ela.
Teh relembra as horas que passou sem saber ao certo se teria suas roupas disponíveis nos próximos dias.
"Conseguir entendê-lo em tempo real pela tradução do AirPod teria sido uma boia de salvação", segundo ela.
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A tecnologia de tradução ao vivo facilitará o trânsito por lugares como o sistema de metrô de Pequim, na China
Getty Images via BBC
Fluência na linha de frente
A tradução em tempo real também poderá ser de enorme ajuda para os profissionais do setor de transporte.
O Aeroporto John F. Kennedy em Nova York, nos Estados Unidos, emprega dezenas de milhares de profissionais de atendimento a clientes. Eles atendem viajantes que falam dezenas de idiomas.
Uma única interação que saia dos trilhos devido às barreiras de idioma pode criar um gargalo que irá paralisar o fluxo de passageiros em outras partes. Este fenômeno é tão comum que tem uma expressão para defini-lo: propagação de atrasos.
Airpods Pro 3
Reprodução/Apple
Estudos demonstraram que uma retenção de uma hora em um único voo de uma companhia aérea de manhã pode rapidamente resultar em um atraso de sete horas em toda a sua frota, devido ao efeito dominó do atraso das suas conexões.
Outra pesquisa indica que o orçamento dos aeroportos menores, mesmo reconhecendo a necessidade de funcionários multilíngues em terra, simplesmente não é suficiente para oferecer o ensino formal de idiomas.
Isso pode fazer com que os funcionários pratiquem seu inglês ouvindo músicas no idioma ou assistindo a filmes com legendas.
Durante o voo, os riscos são ainda maiores. Diversos acidentes fatais já foram relacionados a mal-entendidos entre o controle de tráfego aéreo e os pilotos.
O que pode ser difícil de entender no dia a dia, como um forte sotaque ou uma gíria estranha, passa a ser mortal quando o assunto são vetores de voo e a pista de aterrissagem correta.
Às vezes, as confusões chegam a ocorrer até mesmo entre duas pessoas que falam o mesmo idioma.
Um estudo indica que, "em dois relatos, um sotaque do sul dos Estados Unidos e outro de Nova York aumentaram a dificuldade de compreensão das comunicações da aviação".
As traduções assistidas por inteligência artificial poderão ajudar neste cenário, mas o treinamento humano provavelmente ainda será necessário para fornecer às ferramentas de IA o diálogo mais claro para trabalhar.
Aeroporto
Lucas Marreiros/g1
Vamos deixar de aprender idiomas?
Da mesma forma que as calculadoras reformularam nosso relacionamento com a matemática, a tradução por IA poderá reduzir nossa motivação para falar outras línguas.
Por isso, as empresas que oferecem cursos de idiomas podem enfrentar dificuldades no futuro.
Ying Okuse é a fundadora da empresa Lingoinn, que organiza estadias em residências que falam mandarim na China, Taiwan e Singapura.
Ela conta que os tutores de IA já são populares entre seus clientes. Mas ela considera que esta é uma tendência positiva que, na verdade, poderá ampliar a demanda.
Para Okuse, "existe uma grande diferença entre o que a IA pode oferecer e a experiência imersiva no mundo real de uma estadia no exterior". Afinal, os aplicativos ainda não conseguem decodificar indicações não verbais.
Seu italiano médio pode dizer muito com um movimento desdenhoso do queixo, equivalente a dizer non me ne frega, "não me importo", levantando as pálpebras ("tenha cuidado") ou beijando a ponta dos dedos.
Já os britânicos e australianos costumam usar seus mais fortes insultos como uma espécie de "cola social", para gerar conexão com seus amigos próximos. Tudo isso exige experiência de campo para apreciar.
"Esse tipo de aprendizado vai além das telas", explica Okuse. "O idioma, em última análise, é questão de conexão, de entender as pessoas, a cultura e as emoções."
Bernardette Holmes é uma ativista que promove o multilinguismo. Ela defende seus benefícios cognitivos.
Aprender um idioma, para ela, resulta em "funcionamento executivo mais forte, maior controle da atenção, maior flexibilidade cognitiva e memória funcional".
Ela destaca que a tradução em tempo real pela tecnologia tem os seus usos, "mas não pode substituir a alegria de se fazer entender em um novo idioma".
Tradução ao vivo nos AirPods
Disponível em contas da Apple fora da União Europeia.
Idiomas atuais: inglês (britânico e americano), francês, alemão, português (Brasil) e espanhol (Espanha).
A serem lançados ainda este ano: mandarim (simplificado e tradicional), japonês, coreano e italiano.
Funciona com AirPods Pro 2 e posteriores, com traduções nos fones de ouvido e na tela.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.
22/10/2025
Selo de ligação segura para combater robocalls só vai aparecer em alguns sistemas operacionais; veja
23 mil ligações por segundo: o Fantástico investiga como funcionam os robôs programados para tirar você do sério
Nem todos os celulares têm sistemas operacionais compatíveis com uma nova tecnologia criada para combater spoofing (quando criminosos falsificam números para se passar por empresas reais) e robocalls (chamadas automáticas que desligam quando são atendidas). Veja quais são abaixo.
Desenvolvido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em parceria com operadoras, o sistema vai identificar chamadas legítimas de empresas, como bancos e call centers, com um selo de verificação: um ícone redondo com o símbolo ?.
O selo mostra que o número foi autenticado, ou seja, confirmado por um sistema que garante que quem está ligando é realmente quem diz ser. O processo também bloqueia ligações fraudulentas.
Grandes companhias, como bancos e centrais de atendimento, que realizam mais de 500 mil ligações por mês, terão que adotar o selo a partir de 17 de novembro, segundo a Anatel. A medida busca aumentar a segurança dos consumidores e reduzir golpes e chamadas indesejadas.
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Selo de autenticação vai mostrar quais chamadas são seguras
Reprodução/Freepik
Inicialmente, todas as empresas teriam até 2028 para implementar o sistema. Mas, em agosto, a Anatel reduziu o prazo para as companhias que fazem mais de 500 mil ligações mensais ? no mesmo decreto que acabou com a obrigatoriedade do prefixo 0303 para telemarketing.
Ao g1, a Anatel confirmou que o selo aparecerá ao lado do número quando a ligação for autenticada.
Nem todos os smartphones, porém, são compatíveis com a tecnologia (veja mais abaixo). E, dependendo do fabricante, o selo aparece de formas diferentes:
? Android: aparece na tela antes de atender (veja na imagem abaixo);
? iOS: é exibido apenas no histórico da chamada.
Como é uma ligação de número autenticado no Android
g1/Thalita Ferraz
Veja algumas perguntas e respostas sobre a autenticação de chamadas:
???? O consumidor precisa fazer algo?
? Como funciona o sistema de autenticação?
? Qual a diferença para o sistema Origem Verificada?
Veja os vídeos que estão em alta no g1
???? O consumidor precisa fazer algo?
O consumidor não precisa fazer ou pagar nada para receber ligações autenticadas. Cabe às empresas que pretendem fazer ligações, como bancos e call centers, contratarem o recurso junto às operadoras.
Mas nem todos os aparelhos e redes são compatíveis. Veja as exigências, segundo a Anatel:
??O celular precisa estar conectado a uma rede 4G ou 5G.
??É necessário ter uma das seguintes versões do sistema operacional:
Apple com iOS 18.2 ou superior ? disponível do iPhone 11 ao 17;
Samsung com Android 10 ou superior ? disponível nos modelos Galaxy S23 e S22, entre outros;
Outros aparelhos com Android a partir do 11 ? disponível nos modelos Motorola Razr 50 ou Motorola Edge 50 Neo, entre outros.
? Como funciona o sistema de autenticação?
Ligações telefônicas de grandes empresas vão ter selo de verificação no celular de clientes, diz Anatel
Pongsawat Pasom/Unsplash
A partir de um protocolo chamado STIR/SHAKEN, que checa em tempo real se o número exibido corresponde, de fato, à empresa que está ligando.
A validação é feita por meio de uma espécie de banco de dados digital centralizado pela Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABR Telecom), que reúne informações das operadoras.
Quando a chamada começa, o sistema compara os dados da empresa com os registros da operadora. Se houver correspondência, a ligação é autenticada e ganha o selo.
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? Qual a diferença para o sistema Origem Verificada?
Fim das robocalls? Veja se seu celular é compatível com ferramenta contra golpes
A autenticação é a primeira etapa de um projeto maior de segurança da Anatel contra fraudes telefônicas: o Origem Verificada.
??Mas, diferente da autenticação, nenhuma empresa é obrigada a adotar esse sistema.
No Origem Verificada, além do selo de verificação e do número de telefone, as ligações de empresas participantes poderão mostrar também:
Nome e logotipo da empresa;
Motivo da ligação;
Mensagem de número validado (veja na imagem abaixo).
A quantidade de informações mostradas com o Origem Verificada vai depender de fatores técnicos como o modelo de celular. Veja se o seu celular é compatível.
Como são as chamadas com o Origem Verificada
g1
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